A popularidade de Lula e a crise dos movimentos sociais e sindicais
Por Franzé de Sousa
O presidente Lula voltou ao poder em 2023 com uma missão desafiadora: reconstruir um país devastado economicamente, socialmente e institucionalmente após quatro anos de desgoverno Bolsonaro. Sua eleição representou um resgate da esperança para milhões de brasileiros que viam na sua liderança um caminho para a recuperação da economia, o fortalecimento das políticas sociais e a retomada do diálogo democrático. No entanto, o atual governo não tem conseguido alcançar a mesma popularidade dos seus mandatos anteriores, e um dos fatores centrais desse fenômeno é a fragilidade dos movimentos sociais e sindicais, que outrora foram pilares fundamentais de sustentação política para o PT e para os governos progressistas no Brasil.
Nos primeiros governos de Lula (2003-2011), o Brasil viveu um período de crescimento econômico que permitiu a implementação de políticas sociais amplas, como o Bolsa Família, a valorização do salário mínimo e a expansão da educação superior com cotas e programas como o Prouni. Paralelamente, os movimentos sociais e sindicais estavam em seu auge, com forte capacidade de mobilização e influência na formulação de políticas públicas. Os movimentos sindicais, liderados pela Central ùnica dos Trabalhadores (CUT) e movimentos como o MST e MTST tinham voz ativa e organizavam grandes manifestações de apoio ao governo e de pressão por direitos.
Hoje, esse cenário mudou drasticamente. Os movimentos sociais e sindicais enfrentam uma crise financeira e política profunda, que afeta diretamente sua capacidade de articulação. A reforma trabalhista de 2017 desmontou o financiamento sindical ao extinguir a obrigatoriedade do imposto sindical, reduzindo drasticamente os recursos das centrais sindicais. O enfraquecimento do sindicalismo fez com que a luta por direitos trabalhistas perdesse força, resultando na precarização do trabalho e no crescimento do informalismo. Paralelamente, os movimentos sociais perderam parte de sua capacidade de organização e mobilização diante de um contexto político adverso.
A Necessidade de Reconstrução dos Movimentos Populares
A baixa popularidade do governo Lula em comparação com seus mandatos anteriores pode ser explicada, em parte, pela ausência desses movimentos na linha de frente da defesa do governo e da mobilização popular. Antes, sindicatos e movimentos sociais atuavam como pontes entre o governo e a população, ajudando a traduzir as políticas públicas em conquistas concretas e impulsionando o apoio popular. Com sua desestruturação, essa ponte se enfraqueceu, dificultando a comunicação direta entre o governo e a base popular.
Além disso, a política econômica atual, marcada por um compromisso com o equilíbrio fiscal e o conservadorismo do Banco Central, não permite ao governo realizar investimentos sociais e de infraestrutura no ritmo desejado. Isso gera frustração entre aqueles que esperavam um novo boom econômico e uma reedição do otimismo dos primeiros governos petistas.
Se o governo Lula quiser recuperar sua popularidade e fortalecer seu projeto político para os próximos anos, precisará enfrentar o desafio de rearticular os movimentos sociais e sindicais. Isso passa por uma revisão da reforma trabalhista, pelo fortalecimento de políticas de participação popular e pelo investimento em programas que estimulem a organização coletiva da classe trabalhadora e dos movimentos sociais.
A experiência histórica mostra que nenhum governo progressista se sustenta apenas pela institucionalidade. É na mobilização popular que reside a verdadeira força para resistir às pressões do mercado financeiro, das elites conservadoras e da extrema-direita. Sem um movimento sindical forte e sem a capacidade de os movimentos sociais influenciarem a agenda pública, o governo Lula corre o risco de perder sua identidade progressista e, com ela, o apoio de sua base histórica.
Portanto, a crise da popularidade de Lula não pode ser analisada isoladamente. Ela está diretamente conectada ao desmonte da organização popular no Brasil. Sem os movimentos sociais e sindicais como força propulsora, o governo perde não apenas apoio, mas também sua principal ferramenta de transformação social. O desafio de Lula não é apenas governar, mas reconstruir o elo entre o Estado e o povo organizado. Esse será o verdadeiro teste de sua liderança para esse terceiro mandato.