Os governos progressistas e os desafios da militância de esquerda  

21/12/2024

Por Franzé de Sousa

Nos últimos dias, uma pergunta tem martelado minha cabeça: o que está acontecendo com nossos governantes? Durante uma conversa com um amigo, motivada por decisões governamentais recentes que tocaram em questões sensíveis aos movimentos sociais, ele questionou:

"Cadê nossa militância? Por que não reagimos, por que não vamos às ruas cobrar, questionar, lembrar nossas lideranças de suas origens e das propostas que os elegeram?"

Era uma pergunta dura, mas legítima. E o incômodo que ela trouxe foi o combustível para uma reflexão mais profunda.

Uma renovação necessária

Ontem, enquanto acompanhava Beth a um exame de rotina, deparei-me com uma cena que trouxe parte da resposta. Ao estacionar o carro, vi um velho amigo vindo em minha direção. Ele vestia uma camisa da CUT desbotada, calça jeans velha, chinelos de dedo e carregava uma mochila surrada. Caminhava devagar, mancando de uma perna, e seu rosto marcado por rugas parecia carregar uma história de resistência e cansaço acumulados ao longo dos anos.

Aquela imagem mexeu comigo. Foi como olhar para o reflexo do que os movimentos sociais e os sindicatos enfrentam hoje: uma militância que envelheceu, que perdeu força e não conseguiu renovar suas fileiras. Onde estão os jovens que deveriam estar dando continuidade à luta?

Voltei no tempo e lembrei da minha geração, que não se conformava com injustiças e enfrentava de peito aberto qualquer decisão que prejudicasse os trabalhadores ou as comunidades mais vulneráveis. Durante minha infância e juventude, mesmo sob a sombra da ditadura, questionávamos o sistema, desafiávamos autoridades escolares e éramos despertados por professores que nos incentivavam a pensar criticamente.

Foi assim que conheci o professor Chico Lopes no ensino médio, um mestre que nos ensinava não apenas a diferença entre socialismo e capitalismo, mas como essas ideologias moldavam a sociedade e impactavam nossas vidas. Suas aulas me inspiraram e me direcionaram para o movimento sindical em 1987, quando entrei para o Sindicato dos Comerciários e comecei a atuar ativamente.

Uma sociedade de conflitos

Quando Lula e Elmano assumiram, muitos de nós sonhamos que a chegada ao poder seria o passo decisivo para uma transformação social radical, para reestruturar um sistema historicamente injusto. No entanto, governar para a sociedade como um todo exige concessões, diálogo e, muitas vezes, limites que nem sempre se alinham aos nossos ideais mais profundos. Eles não governam apenas para os trabalhadores; governam uma sociedade, com todas as suas contradições e interesses divergentes.

A verdade é que nenhum governante de esquerda, por mais comprometido que esteja com as causas populares, nao consegue sozinho destruir as estruturas do capitalismo e implantar uma nova sociedade. Essa transformação exige mais do que projetos e políticas públicas: demanda um movimento organizado, forte e persistente de toda a sociedade. O que Lula e Elmano podem – e têm feito – é amenizar o sofrimento dos mais necessitados, por meio de programas sociais, geração de emprego, políticas de inclusão e projetos voltados para a redução das desigualdades.

Ainda assim, a resistência é feroz. O sistema reage, e os representantes do sistema tentam, a todo custo, enfraquecer os avanços conquistados. É nesse cenário que a nossa responsabilidade enquanto cidadãos se torna ainda mais evidente. Não podemos nos acomodar esperando que nossos governantes façam tudo por nós. Cabe a nós, enquanto sociedade civil organizada, pressionar os parlamentares, cobrar posicionamentos, exigir que políticas públicas de interesse dos trabalhadores e das populações mais pobres sejam aprovadas.

Lula e Elmano são símbolos de uma luta que vem de décadas. Lula, o metalúrgico que ascendeu à presidência e mostrou que o trabalhador pode ocupar os mais altos cargos do país, é um ícone da resistência. Elmano, com sua trajetória dedicada a defesa dos trabalhadores e o povo do Ceará, reflete essa mesma essência de luta e compromisso. Ambos enfrentam desafios imensos, mas é inegável que seus governos têm sido marcados por iniciativas que buscam diminuir o abismo social que separa ricos e pobres neste país.

Hoje, apesar de um cenário de tantas conquistas importantes para os trabalhadores e para a população mais pobre, é preciso lembrar que eles enfrentam um sistema capitalista resistente a mudanças estruturais. Decisões governamentais recentes, que impactaram diretamente os movimentos sociais, geram questionamentos legítimos. 

É preciso reconhecer que há limites ao que os governantes podem fazer sozinhos. Transformar as bases do sistema exige mais do que políticas públicas; demanda uma mobilização social ampla e organizada.

O caminho da renovação

Precisamos cobrar, pressionar os parlamentares e exigir políticas públicas que defendam os interesses dos trabalhadores e das comunidades mais vulneráveis. A imagem do meu velho amigo ontem foi um lembrete doloroso de que nossa militância precisa de renovação. Não podemos deixar que o cansaço e a falta de engajamento enterrem a luta que tantas gerações sustentaram.

Lula e Elmano são aliados valiosos nessa caminhada. Eles representam a resistência e a possibilidade de mudança, mas a transformação depende de nossa contribuição. É preciso reacender a chama da militância, organizar-nos e acreditar que um Brasil mais justo ainda é possível.

Como já ouvimos tantas vezes e como precisamos repetir incansavelmente: "O povo unido jamais será vencido."

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